O percebe (Pollicipes pollicipes, Gmelin 1790) é o recurso vivo do litoral rochoso português que possui maior importância económica. De acordo com alguns estudos, a exploração do percebe no sudoeste da costa continental portuguesa é muito intensa e o respectivo stock encontra-se intensa e totalmente explorado (Castro, 2004). Com base em diversas observações e opiniões dos pescadores, é possível que o mesmo se passe na restante costa.
Foram recentemente postos em vigor regulamentos que condicionam a apanha comercial desta espécie em duas áreas protegidas: Reserva Natural das Berlengas (RNB, Portaria 378/2000) e Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV, Portaria 285/2006). Estes regulamentos não são idênticos, nomeadamente a definição dos períodos de defeso, de quantitativos máximos e de tamanho mínimo de captura. No resto da costa portuguesa, existem áreas onde a apanha do percebe é totalmente interdita (litoral do Cabo Espichel, por estar incluído no Parque Marinho Luiz Saldanha), e outras onde a sua apanha comercial não está regulamentada (ex.: Litoral Cabo Raso- Cabo Carvoeiro).
A avaliação do sucesso da regulamentação da gestão da apanha do percebe na Reserva Natural das Berlengas foi realizada através de um projecto financiado pela FCT (POCI/BIA-BDE/58206, entre 2005 e 2008) e coordenado pela Universidade de Évora. Não existe informação científica sobre o estado deste recurso noutras áreas da costa portuguesa.
Em Setembro de 2008, foi organizada uma conferência internacional sobre o percebe (Pollicipes International Conference) onde foi debatido o estado deste recurso e a gestão desta pesca em Portugal e Espanha. Esta conferência foi uma co-organização da Universidade de Évora, do Centro de Oceanografia/Centro de CIências do Mar e do Ambiente e da Câmara Municipal de Sines. Com base na conferência foi produzido um documento com as reflexões e recomendações da comissão científica e da comissão organizadora desta conferência sobre a gestão da pesca do percebe em Portugal. Este documento foi enviado para as associações do sector e entidades com responsabilidade na gestão deste recurso.
Um dos aspectos negativos destacados pela maioria dos percebeiros portugueses presentes nessa conferência foi o seu fraco envolvimento na forma como é feita a gestão da exploração deste recurso, pelo que foi recomendado um maior envolvimento entre a administração e os percebeiros e que os cientistas também façam parte de um triângulo de gestão e apoio à gestão formado por percebeiros e pela administração, nomeadamente como consultores ou para efeitos da monitorização do recurso.
Foi também recomendado que haja um esclarecimento e clarificação do sistema de gestão português deste recurso. Com base nesse documento e relativamente ao estado do recurso, na Galiza, onde existem dados estatísticos de pesca de percebe, não existe alguma tendência clara de aumento ou diminuição das capturas desde o final da década de 90 (século XX). A mesma tendência parece passar-se na RNB, no caso das capturas de percebeiros licenciados, estimadas no âmbito de um projecto de investigação recentemente terminado. No PNSACV, a situação é diferente, existindo informação contraditória de manutenção do estado do recurso ou pioria do mesmo. Tendo em atenção a actual exploração efectuada em Portugal, foi recomendado que devia ser implementado um plano de monitorização do estado do recurso que funcionasse de forma independente em relação aos utilizadores e gestores.
A biologia e ecologia do percebe têm sido estudadas sobretudo em Portugal e Espanha (ex.: Cruz, 2000; Macho, 2006). Apesar do progresso recente do estado do conhecimento sobre esta espécie, existem dois aspectos da sua biologia que são urgentes investigar: o crescimento e a qualidade dos percebes; e o recrutamento e recuperação de áreas exploradas.
O estudo do crescimento desta espécie é insuficiente, pois as estimativas existentes de crescimento dos percebes são baseadas em observações pontuais e sabe-se que o crescimento desta espécie é muito variável (Cruz 2000, Cruz et al., 2008).
O estudo dos padrões de crescimento desta espécie e de quais os factores que afectam o seu crescimento é fundamental para justificar biologicamente medidas de gestão relacionadas com os quantitativos das capturas e com o tamanho mínimo.
Associado ao estudo do crescimento, está o problema da qualidade do percebe, nomeadamente a existência do chamado “percebe mijão”. Na verdade, existem percebes com maior valor comercial e outros, denominados de “percebe mijão”, mais finos e longos, com pouco valor comercial. O conhecimento actual sobre a biologia deste recurso não permite identificar quais as causas desta variação de qualidade e de crescimento. Enquanto alguns apanhadores associam a fraca qualidade dos percebes à elevada densidade de percebes e sugerem que a exploração é necessária para transformar percebes de baixa qualidade em percebes com maior valor comercial, outros apanhadores consideram que a fraca qualidade dos percebes está associada aos locais específicos onde eles se encontram.
O estudo do recrutamento e da recuperação de áreas exploradas (desde o processo de assentamento das larvas até ao recrutamento à população explorável) é outra área do conhecimento que requer mais investigação, nomeadamente para avaliar, no futuro, a viabilidade da aquacultura desta espécie. O modo de apanha dos percebes no terreno pode também ter um grande impacte na recuperação das áreas exploradas e consequentemente na sustentabilidade desta pesca. Observações preliminares apontam para uma maior recuperação de áreas em que as pinhas de percebes foram exploradas parcialmente em vez de totalmente. Observações preliminares também apontam para a possibilidade, através da utilização de substratos artificiais, de aumentar a recuperação de zonas exploradas.